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Resultados pesquisa SFT 2009
Acabam de ser publicados os resultados da pesquisa conduzida pela SFT (Société Française de Traducteurs) no início de 2010 sobre o exercício 2009. Você pode baixar o relatório completo aqui, bem como o de 2008.
Além das tabelas de tarifas por par de língua ao final do relatório, algumas coisas chamaram minha atenção no resultado do questionário (qualquer soma de porcentagem que exceda 100% significa que era possível mais de uma resposta):
1) Perfil dos entrevistados
-77% dos entrevistados são mulheres. Fortíssima e incontestável participação feminina na categoria profissional;
-78% dos entrevistados residem ou atuam na França. É importante relativizar os resultados encontrados para o mercado francês, embora traga bons ensinamentos.
-a quantidade de pessoas em início de carreira é bem menor do que na pesquisa de 2008 (redução de 25% para 18% de entrevistados com menos de 5 anos de experiência);
-mais de um terço (34%) dos respondentes iniciou sua carreira profissional entre 25 e 29 anos (é meu caso);
-40% dos entrevistados não realizou estudos específicos em tradução ou interpretação e, para aqueles que os cursaram, tais estudos não proporcionam acesso a tarifas mais elevadas;
-um terço dos tradutores assalariados exerce outra atividade além do contrato de trabalho;
-quantidade de pares de idiomas com os quais os entrevistados trabalham: 1 (34%), 2 (42%), 3 (16%), 4 (5%) e 5 ou mais (3%). Ao que parece, dada a dificuldade de se dominar uma língua, os tradutores entendem que trabalhar com muitos pares de idiomas pode transmitir menos credibilidade para os clientes potenciais e preferem anunciar excelência em poucos pares;
-dentre as prestações oferecidas, além da tradução, grande destaque para a revisão (com comparação em relação ao original ou não), oferta que aumento de 12% em relação ao ano passado. É significativo e nos faz pensar sobre a reorganização do fluxo de trabalho (a revisão parece tomar um espaço cada vez mais importante…).
-2% dos entrevistados empregam assalariados…
2) Procedimentos adotados:
-94% (!!) dos entrevistados fatura tradução por palavra. É uma tendência bem majoritária. 86% dos entrevistados fatura a palavra de origem (no texto a traduzir). Para aqueles (13%) que ainda trabalham com lauda, a grande maioria (11% dos entrevistados) trabalha com a medida de 1500 caracteres com espaços. Aqui no Brasil esta medida não parece ser a mais adotada (acredito que a lauda de 1000 caracteres sem espaços seja a mais usual);
-somente 38% exige confirmação do pedido através de PO (Purchase Order) ou contrato antes de iniciar o trabalho; 36% dos entrevistados trabalha pouco ou nunca com PO (Purchase Orders). É inquietante, e eu realmente achava que este seria um quadro brasileiro, mais do ue francês;
-a maioria (53%) não dá desconto por grandes volumes de trabalho (por exemplo, ao fornecer orçamento para traduzir um livro inteiro);
-68% dos entrevistados dá descontos degressivos por segmentos repetidos ou similares (calculados através da análise de alguma ferramenta de tradução assistida por computador – CAT tool);
-71% trabalha com alguma tarifa mínima;
-pouquíssimos são aqueles que trabalham com adiantamento (78% não pedem nunca ou quase nunca adiantamento);
-cobranças extra: 74% dos entrevistados aplica tarifa de urgência; 49% aplica tarifa adicional por trabalhar a noite e 50% por trabalhar no final-de-semana; 47% cobra mais se houver dificuldade técnica especial (terminologia, etc.). Porém, poucos cobram algum extra quando se trata de: má redação no original, original emn formato powerpoint, adoção de nomenclatura, original impresso sem versão eletrônica, texto ilegível (por exemplo no caso de digitalização OCR ruim), formatos especiais de arquivos a traduzir (htm, xml, php, exell, … etc.) e processamento de imagens.
3) Ferramentas e técnicas:
-69% dos entrevistados utiliza uma ferramenta de tradução assistida por computador (CAT tools). Os dois mais usados são Wordfast (20% dos usuários em 2008; 32% em 2009) e Trados (45% em 2008; 67% em 2009, no SDL-Trados). Houve um aumento incrível da quantidade de programas desta família (7 programas listados em 2008, passando para 26 programas em 2009!)
-mais da metade dos entrevistados não realizou nenhum treinamento ou curso na área de tradução em 2009. Foi também o caso em 2008.
Para avaliar tarifas, a SFT cruzou as tarifas informadas com dados diversos, obtendo as seguintes correlações:
-por horas semanais trabalhadas: quem trabalha entre 30 e 59 horas cobra a melhor tarifa. Como era de se esperar, quem cobra menos acaba sendo quem trabalha demais (70 a 90 horas por semana). E quem trabalha pouco (menos de 30 horas semanais) também cobra menos, o que representa talvez uma fatia de profissionais que está buscando mais trabalho e, por este motivo, reduzindo tarifas para gerar atratividade.
-por faixa etária: a idade parece acarretar maiores tarifas
-por tempo de experiência: quanto maior a experiência, maior a tarifa cobrada
-por treinamentos e cursos realizados: realizar cursos ou treinamentos leva o profissional a aumentar a tarifa
-a renda anual é maior entre aqueles que não fizeram estudos de tradução e/ou interpretação… .. curioso, não?
Quem quiser baixar o relatório completo, com todos os dados, explicações e gráficos, pode fazê-lo aqui.